Casa dos Espelhos
Palavras são como espelhos, na escrita refletem o que está dentro e fora de mim, no mundo real ou no meu imaginário. Aqui tento dar visibilidade ao oculto. E trazer à superfície a face anônima das imagens refletidas.
terça-feira, 8 de março de 2016
Dama da noite
Era um jardineiro fiel. Mas solitário estava. Certo dia a solidão sentida dor foi tanta. Maior do que a espetada nos espinhos secos da roseira. Minúsculo rubi na ponta do dedo, orvalho de cristal sob os olhos. Depois desse dia, decidiu semear o coração. Rosas são unânimes. Mas azaleias embelezam. Lírios são delicados. Mas amores-perfeitos, a intangível perfeição. Alegres margaridas. Oníricas flores as glicínias. No entanto, e sobretudo, este jardineiro amava girassóis. Imponentes e amarelos. Por um momento fechou os olhos sentindo por dentro o calor do sol. Tudo de que mais precisava, desejava, para dizer adeus a fria solidão. Preparou a terra, fértil solo, como se arrumasse o leito de núpcias. Fincou amorosamente a semente. Depois regou. E cultivando sentimentos de ternura suspirou: Não mais o passar do tempo sozinho! Sonhos e noites decorridas. Com paciência vegetativa, o amor se desenvolvia. Até que enfim o tamanho ideal para a aurora em flor. Então o jardineiro ao jardim voltou desesperado para o esperado encontro. Mas naquele dia nenhuma flor brotado havia. Sem entender sentida a ausência ameaçou os olhos matar a sede em sal. Todavia, para sua, surpresa, foi sob os raios do plenilúnio que, à primeira vista, se apresentou o seu tão querido amor. Assim, admirado de paixão, não conhecera girassol, mas, como ele mesmo a chamou, gira-lua.
Frutos
Agarrou-se com tanta força ao rancor que criou raízes. Depois lhe vieram os frutos. Daí já era tarde demais.
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
Matéria
É uma pena saber que
muitas pessoas não vivem da matéria que as sustentam. Passam a vida separando
as coisas, vivem da ilusão. Já eu não! literatura é célula que compõe o meu
corpo, é átomo que constitui a minha substância. E tudo que leio ou escrevo faz
parte de mim é o que sou. E como sei viver. Portanto, não me espantarei se
algum dia alguém chamar "Clarice" e eu responder. O meu nome já não
importa, ele não é o que eu sou, e nada diz sobre mim. Eu sou aquilo que absorvo e
retenho. E não tenho identidade, pois não posso ser classificado. E se, por
acaso, tentarem me enquadrar numa moldura pregada na parede, transbordarei para
além. E nunca falo a verdade, porque verdades não são ditas, apenas vividas. De
uma coisa eu sei, atendo por vários nomes e um deles é Tempo. Quando me chamo
Tempo é porque nunca estou parado, sou aquele que corre e nunca sabe o que está
por vir. E nada é tão exato, perder é achar. E eu achei o meu caminho: viver à
deriva. Vivo uma certeza: mudar. Vivo uma realidade: ter apenas o que preciso.
Enquanto a tendência é acumular, ao contrário, quero desapego. Vivo apenas do
peso daquilo que me sustenta: minha matéria. Já não tenho medo (não há o que
temer). Já não tenho mais pena das pessoas que não vivem da substância que as
sustentam. Não se preocupe em entender, renda-se. E se me perguntarem o que
quis dizer com isso que escrevi, a resposta será: não sei! “me perdi” no meio
do caminho. Estou perdido, ocupado, vivendo, respirando, correndo, escrevendo,
etc...
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
Cantando na Chuva
Sem lágrimas nem motivos pra chorar
Então, deixo que o
céu chore por mim
Nuvens se desmanchem em gotas d'água
Porque eu só tenho razões para sorrir
Nuvens se desmanchem em gotas d'água
Porque eu só tenho razões para sorrir
domingo, 30 de outubro de 2011
Faces, Facetas, Façanhas
Quando nasci, um anjo doido
Desses muito doido, louco, torto
Veio anunciar a minha sorte:
Vai, Bruno! ser gente no mundo
Para isso, precisas ser forte!
Não era anjo louro. Sim
Era um anjo muito esbelto
Anjo negro, cor de ébano
Disse olhando para mim:
Não dê mole nunca,
Seja esperto!
Digo a ele:
Quero cumprir a sina.
Sem precisar mentir
Quero ser forte na vida
E resistir até o fim
Como muitos Raimundos
Como muitos Severinos
- ser brasileiro -
Eis o meu destino!
Desses muito doido, louco, torto
Veio anunciar a minha sorte:
Vai, Bruno! ser gente no mundo
Para isso, precisas ser forte!
Não era anjo louro. Sim
Era um anjo muito esbelto
Anjo negro, cor de ébano
Disse olhando para mim:
Não dê mole nunca,
Seja esperto!
Digo a ele:
Quero cumprir a sina.
Sem precisar mentir
Quero ser forte na vida
E resistir até o fim
Como muitos Raimundos
Como muitos Severinos
- ser brasileiro -
Eis o meu destino!
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Narcisus Tragicus
Agonia de Narciso
Preso ao espelho
Afogando-se em vaidade
Reflete a beleza de
morrer contemplando
a própria imagem
Preso ao espelho
Afogando-se em vaidade
Reflete a beleza de
morrer contemplando
a própria imagem
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Verbo Amar
Quando digo, e repito para mim, com orgulho, que não acredito no amor. É então que eu mais amo. E o que é mais importante: ser amado? Digo que não! Amar é o mais importante, porque amar é praticar uma ação, e não sofrê-la: sou eu o agente. Quando digo: sou amado, reduzo-me a um objeto. Mas quando digo e repito: eu amo, sou eu o sujeito.
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